As âncoras nos ligam a lugares comuns
Ele batalhou duro por todos aqueles anos. Tinha consciência de que aquele era o momento! Já não aguentava mais aquele emprego chato e contava ansiosamente cada minuto esperando por cada sexta-feira que apontava no horizonte da semana. O despertador parecia um trompete de quartel general e não importava quão suave era a música escolhida por ele no smartphone para acordá-lo. Não era justo! Tudo que ele mais queria era acertar aquele projeto e sair dali!
Preparou a reunião com os investidores, tudo estava milimetricamente pensado. Não podia falhar! Se dirigiu ao prédio imponente da Avenida Brasil com seu terno e gravata cuidadosamente escolhidos. O perfume certo, bem leve para não chamar muita atenção, mas com um tom amadeirado para passar a seriedade que um homem precisa. Estava confiante.
Ao se aproximar do prédio, logo antes de atravessar a garagem, escutou o som da campainha alertando para a saída de um veículo do edifício. De repente, algo muito estranho aconteceu! O som da campainha o levou, em suas memórias, ao tempo de escola. Sem que ele percebesse, o foco da reunião já havia virado um conto de fadas. A quadra do colégio, as brincadeiras, os apelidos, as meninas e as vergonhas de adolescente se fizeram presente.
No meio do devaneio um leve tropeço. Uma bonita mulher viu a cena e deu uma risada – uma leve vergonha. Aquilo foi estranho, mas ele decidiu largar pra lá. Ou pelo menso tentou! Era uma reunião importante afinal. Só que ele não era mais o mesmo e um frio na barriga tomou conta de seu corpo. Já não controlava mais seu medo. Só conseguia pensar em não ser reprovado em mais uma prova de sua vida!