O Brasil ainda é o país do futebol?

Não é que nosso nível do futebol tenha caído! A conformidade de sermos os melhores E PONTO é que tem tirado um pouco do nosso brilho! Mas ainda somos ouro!

Que o brasileiro é um povo geralmente criativo não há dúvidas. Que o brasileiro tem uma habilidade social fora do comum também não é de se assustar. Só me admira um país com tanta gente assim, ter uma tendência à conformidade tão grande!

Hoje escrevo com uma quase indignação, mas ainda com o sorriso no rosto e a certeza de que o famoso “sentar em cima do dinheiro” tende a diminuir.

Foi por pouco, mas o Brasil ganhou a medalha de ouro no futebol masculino nos jogos olímpicos de 2016, momento em que escrevo esse post. Dois anos antes, justo contra a Alemanha, naquela ocasião com sua seleção oficial, o Mineiraço nos marcou com um 7 x 1 amargo.

Qual é a análise que podemos fazer?

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Acima da média

Você já percebeu o tanto que nosso país é acima da média? Somos acima da média em vários aspectos como potencial empreendedor, mercado de TI que mais cresce, expectativa de vida e outros tantos aspectos! Não é à toa que dentre de 208 países englobando mais de 10.000 atletas, ficamos em 13º no quadro geral de medalhas! Muito acima da média, não acha?

Talvez você seja daqueles que se sinta orgulhoso por esse feito da seleção olímpica de futebol e pense: “O mundo vai ter que engolir o Brasil no futebol!”, afinal voltamos a ser os primeiros. Bom, espero que você saiba que praticamente tudo que se engole termina no vaso!

Agora, talvez você tenha aprendido que isso não deva ser comemorado, pois não se deve comemorar uma vitória da seleção olímpica, com o estado que anda nossa saúde, educação, etc. Eu concordo com você em partes! Falarei disso daqui a pouco!

Nessa levada é bom lembrar também dos tantos brasileiros que já roubaram a cena mundial por mérito! Ayrton Senna, Pelé, Fernando Meirelles, Carlos Saldanha, entre outros tantos que talvez você não dê notícia! Agora pense, quantos brasileiros já roubaram a cena em casa, nas empresas, na pelada com a galera ou naquela resenha gostosa, mas que fizeram toda a diferença nas vidas dos que ali estavam naquele instante?!

Se você ainda não se olhou no espelho como brasileiro e ainda não percebeu que somos um país muito acima da média, está na hora de largar AGORA essa síndrome de cachorro vira-lata!

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O Brasil no Futebol

O Brasil, por décadas, se destaca no futebol e, ainda que hoje a duras penas, se mantem entre os melhores, porém os indicadores e as percepções de quem gosta desse esporte não são as melhores. Por sua vez, os alemães olímpicos, que ficaram em 5º no quadro geral de medalhas, fizeram algo que na Programação Neurolinguística dá-se o nome de modelagem e, assim como o futebol europeu em sua maioria, vêm evoluindo significativamente seus resultados. Importaram jogadores, técnicos, profissionais de todos os tipos envolvidos, modelaram e vêm melhorando consideravelmente ano após ano!

Aos saudosistas que insistem em dizer o contrário, basta assistir o nível de um jogo europeu e um do campeonato brasileiro. A diferença do toque de bola é brutal!

Sem entrar no mérito da história de como isso aconteceu, saiba apenas que isso é algo normal de se acontecer. Aconteceu inclusive no Vale do Silício em relação à educação americana. É um movimento inevitável. Quem quer melhorar, modela! Assista:

Brasil x Alemanha

Certa vez, escutei a seguinte frase de uma amiga que mora na Alemanha: “Aqui tudo funciona, mas é ruim! No Brasil nada funciona, mas é bom!

Essa frase ilustra um pouco o contexto de organização cultural que ainda temos. Uma fila aqui ainda parece ser mera ilustração – você pode entrar lá na frente se tiver habilidade. Acostamento ainda serve para ultrapassar caso haja um engarrafamento. Carteirinha de estudante, ainda não é estelionato caso seja falsificada – qualquer coisa um bate papo com o cara do cinema resolve! Político rouba mesmo (ainda!) e se algo estiver sendo distribuído para várias pessoas, corra e pegue o máximo que puder. Que se dane quem ficar sem! Ainda!

conformidade que vem aos poucos abalando o futebol é reflexo dessa cultura. Os desdobramentos não se restringem ao futebol brasileiro, acontecem nos mais diversos setores do país, desde a escolinha do filho até os meandros dos palacetes de Brasília.

“Todo mundo faz, então eu também vou fazer!”

Mas por que mesmo sem funcionar aqui que é o lugar bom?

Eu te respondo com todo o prazer contando uma breve história, que posso dar mais detalhes em um dia que marcarmos um café, ok?

Em 2012 eu saí de casa para fazer uma viagem sozinho sem saber para onde eu iria. A única coisa que tinha em mente era que eu queria ir para o norte ou nordeste do Brasil gastando o mínimo possível. Nada de sul, procurava evitar as chuvas daquela região na época. Pretendia fazer isso durante 20 e poucos dias. Na rodoviária comprei a passagem para o primeiro ônibus e fui parar em Alcobaça, Bahia.

Após várias caronas e papos interessantes, subi o litoral sul daquele estado visitando várias praias até chegar em Itacaré, gastando algo em torno de 5 dias de viagem. Cheguei ao anoitecer e me estabeleci em um hostel, onde o cara que me atendeu cobrou a hospedagem dizendo:

– Twenty Five box, man! Fifteen is for room and ten for the towel. If you return the towel I return you ten box!

(tradução):
– Vinte e cinco reais, cara! Quinze é para o quarto e dez para a toalha. Se você devolver a toalha, eu te volto os dez reais!

Eu ri achando engraçado o lance da toalha! A gíria em inglês para vinte cinco reais me revelou algo estranho que fui realizar algumas horas depois! Há muitos gringos vivendo naquela cidade. Logo ele me pediu desculpas e disse que estava mal acostumado.

Para minha felicidade – ou não – na primeira noite que passei rolou uma Jam Session (uma festa onde vários instrumentos foram largados nos sofás e redes do local, livre para tocar) em uma área de confraternização do hostel. Foi bacana! Os meus 10 reais de aluguel da toalha foram convertidos nos comes da festa! (rs)

Como não tenho problemas em puxar um papo, tratei logo de começar a observar para ver por onde eu começava e foi aí que eu percebi. O único que falava português era o cara da pousada e aí que notei que eu havia me enganado quando pensei que ele estava mal acostumado por viajar muito! Ele falava inglês era ali mesmo e o tempo todo!

Festa vai festa vem, bati vários papos. Conheci gente do mundo inteiro, mas nenhum papo, por melhor e mais agradável que fosse, foi tão leal como pessoas que conheci nos dias posteriores: baianos, paulistas, cearenses, candangos, gaúchos e de outros diversos estados… conheci muita gente interessante por lá e quando o papo era bom, senti o mesmo que sinto em Belo Horizonte, minha terra: brasileiro acolhe!

Brasileiro geralmente se interessa por você de verdade e é isso que faz você se interessar por ele. É uma cultura de mão dupla que vivemos! Isso que praticamos com maestria se chama Rapport! Empatia pela qual somos reconhecidos mundialmente!

É essa habilidade básica que o brasileiro geralmente tem que faz toda diferença em desenvolvimento humano, desenvolvimento de equipe, geração de sinergia em empresas, melhoramento de clima organizacional… é o motivo que fez minha amiga da Alemanha dizer que aqui que é bom! É um dos principais motivos que nos faz estar acima da média!

Qual o caminho a seguir?

Aí eu te pergunto: não temos que comemorar? Claro que sim! Temos que comemorar e muito! Merecemos! Concordo com aqueles que percebem que há uma incoerência de valores quando analisamos todo esse contexto em comparação com outras áreas como saúde e educação, mas o que quero mostrar aqui é que temos um potencial formidável de estarmos não simplesmente acima da média, mas entre os melhores do mundo!

É muito mais fácil nós evoluirmos e modelarmos a consciência coletiva organizacional que os alemães em geral fazem com maestria – estamos falando de processo educativo – do que países que sofreram guerras e guerras em seu território confiarem no próximo como fazemos aqui no Brasil. Empatia é nossa virtude!

Agora imagine se todos os bilhões de reais desviados todos anos fossem aplicados em saúde, educação e esportes? Quantas medalhas teríamos? Quantos engenheiros de sucesso teríamos? Quantos letristas formidáveis? Fotógrafos, advogados, cineastas, enfermeiros, mecânicos e escambau?

Isso não voltaria aos nossos bolsos?

Imagine o que acontecerá com esse país, quando a geração que hoje possui algo em torno de 10 anos e está presenciando as mudanças sociais atuais estiver em cargos decisórios, tanto em empresas quanto na política? A alocação de recursos como os 12 milhões que a CBF disponibilizou para os jogadores que ganharam o ouro no futebol financiariam quantas medalhas nas próximas olimpíadas se fossem melhor investidos?

Depois da família, o primeiro pilar da construção de uma sociedade saudável, a construção de uma consciência ética e coletiva das sociedades públicas e privadas do país é o próximo passo a ser desenvolvido e segundo pilar desse caminho!

A única frase no instagram oficial que se repete é: QUEM ACREDITA EM DOM NÃO TRABALHA DURO! A frase que homenageia os vencedores das olimpíadas é exemplo a ser seguido. É frase de quem coloca a ordem como valor prioritário na sua hierarquia de valores. Pra quem faz isso, o progresso é inevitável! É o que eu busco modelar diariamente e você?

Então se você quer saber se o país ainda é o país do futebol? Eu te respondo: o Brasil pode ser o país do que ele quiser, basta querer!

Um grande abraço!

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2 Comments
  1. Reply Kleber 28/08/2016 at 22:13

    Texto medalha de ouro.
    Podemos incluir também na discussão a nossa cultura de valorizar os “estrangeirismos”. Achamos lindo dar nomes em outras línguas a qualquer novo produto. temos que nos valorizarmos mais, nos unirmos mais, sermos mais coletivos e menos individualistas.
    Parabéns pelo texto Rogério.

    • Reply Rogério Braga 28/08/2016 at 22:27

      Isso aí! O nosso português mesmo é tão diferente que poderia ser chamado de brasileiro, né? Obrigado por estar junto, meu caro!! Grande abraço!!

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