Raiva Quem te irrita te domina

Raiva: quem te irrita, te domina!

Shakespeare disse: a raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram. Eu digo: ele não poderia estar mais certo.

Faça uma lista das pessoas e coisas que mais te irritam, que te fazem muita raiva. Vai lá, sério! Antes de ler o texto, pegue uma folha de papel ou abra um bloco de notas e escreva pelo menos as cinco coisas e pessoas que mais te tiram do sério. Fechar os olhos e respirar bem fundo, esperando calmamente para que a lista venha a sua mente pode ajudar.

Comentei aqui uma vez sobre aquele jogo que te leva a seguinte situação: quanto mais você erra, mais você erra de tão nervoso. É tanto nervosismo que muitas das vezes a desistência vira sua única opção. Isso quando você não resolve bater em alguém ou jogar algo no chão. Hoje quero falar um pouco sobre o mecanismo desse sentimento que parece ser um dos mais (des)controladores da paz humana.

Você já quebrou alguma coisa só de raiva?

Naturalmente, parece que algo em nossa mente realmente não vai muito bem quando estamos completamente tomados pela raiva. A emoção é fundamental no nosso processo de decisão1. Nós não somos uma máquina puramente racional como muitos supõe. Pelo contrário, somos uma máquina aperfeiçoada há milhares (senão milhões) de anos e, nesse processo, as emoções foram um dos principais mecanismos de sobrevivência da nossa espécie.

Foi através desse mecanismo que tomamos as melhores decisões que nos fizeram como espécie prosperar, reproduzir e nos tornarmos os maiores predadores do mundo – pois é, encaremos isso. Podemos concluir que nossa decisão é imensamente afetada de acordo com o que vulgarmente chamamos de “estado de nervos”!

Tenho uma tia que vive dizendo: “Nossa! Fiquei de cabeça quente!” Acho muito engraçado a maneira que ela perde o controle.  Por outro lado, não somos apenas emoções e podemos sim usar a racionalidade para que, após sentirmos o que sentimos, tomarmos as decisões sem que sejam completamente reativas, inclusive para repensar os custos que nos fizeram prosperar no mundo como espécie – mas isso é outra história que fica para filosofia.

Diante do exemplo daquele jogo, podemos perceber que com quanto mais raiva ficamos, mais tendemos a escolher opções erradas, menos percebemos saídas para os problemas e mais ansiosos ficamos em resolver a situação e esse ciclo vicioso nos estressa. No Poker, por exemplo, os jogadores chamam isso de TILT.

Fisiologicamente, o estresse ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal: a hipófise anterior libera o hormônio ACTH, que induz a liberação de cortisol (você já deve ter ouvido falar nesse camarada!) – principal hormônio regulador do sistema imunológico – pelo córtex das glândulas adrenais. Sabe o que isso significa? – Que se você não aprender se controlar, você estará cada vez mais refém das próprias reações.

Há pessoas que sabem tocar em nossas feridas

bravinha

Você pode culpar o nosso jogo desafiante pela sua raiva ou as pessoas que te tiram do sério por isso, mas isso adianta tanto quanto xingar muito no Twitter. Concordo com você que há pessoas que possuem muitas habilidades para perceber o que mais nos deixa de “cabeça quente”, mas se você soubesse que as emoções que você sente podem afetar a sua conversa com essa pessoa você não se acalmaria?

A filosofia estoica se dedicou a estudar sobre diversas questões e há pelo menos 2.300 anos já sabemos que nós não controlamos o que sentimos, como a neurociência pode provar hoje, mas podemos controlar os comportamentos que temos logo após sermos acometidos por uma determinada emoção.

Marco Aurélio, imperador de Roma que se dedicou a filosofia e grande expoente dessa escola, escrevia para si em uma espécie de diário reflexões que mais tarde foram chamadas de meditações. Dentre os conselhos que ele se dava para ser bem sucedido como foi podemos encontrar frases como: “Escolha não ser atingido e você não se sentirá atingido, não se sinta atingido e você não terá sido.”

Talvez isso não seja uma tarefa fácil para você. Se te consola, para mim não foi e não é para grande maioria das pessoas. Tenho muito a aprender e foi um desafio eu chegar onde cheguei, mas descobri que é totalmente possível não ser dominado pelos sentimentos como a raiva.

Sendo assim, eu te convido a pegar as anotações que você fez antes de iniciar essa leitura. Preste bastante atenção no que são as coisas que te tiram do sério e reflita por uns minutos principalmente sobre nome das PESSOAS que você anotou. Quando você aprender a lidar com as pessoas que te geram raiva, irá perceber que a única coisa que te irrita quando está fazendo algo com as COISAS é você mesmo!

O que fazer para resolver?

Como já disse aqui várias vezes: não há nenhuma fórmula de bolo. Qualquer resposta pronta que alguém te der a respeito é puro charlatanismo. A proposta desse site é fazer reflexões e não entregar soluções mágicas dentro do paradigma da autoajuda. Há, porém, algumas boas perguntas as quais você pode se fazer ao se lembrar daquela discussão com a pessoa irritante:

  • Será que é possível você passar a identificar o momento que está sentido raiva mais rapidamente do que tem feito?
  • Será que ao identificar que está sentindo raiva você pode fazer algo para diminuir a tensão que está sendo provocada fisiologicamente pelos seus órgãos?
  • Será que você não tomaria melhores decisões naquela hora se pudesse sair e dar uma volta assim como fez para resolver o desafio?
  • Se pudesse pedir 5 minutos para pensar melhor sobre o assunto seria eficaz?

Uma pitada de criatividade e autoconhecimento são seus aliados aqui. O que funciona comigo pode não funcionar com você. Mas amigos que já trilharam o esse caminho podem ter boas dicas para nos ajudar. Caso tenha dificuldades com algum projeto que te deixa nervoso pelo fato de os resultados não aparecerem, clique aqui.

Deixar-se dominar por coisas ou pessoas não me parece desejável quando o que devemos fazer é respirar fundo, nos acalmar e pensar com a mente sem influência da raiva. Aliás, acho que ninguém em sã consciência discorda que é muito mais agradável conviver como uma pessoa que, ao invés de querer ir para o embate a todo tempo, se mostre com uma postura assertiva e preparada para resolver os problemas em questão.


Referências Bibliográficas

1PELOI, S. C. As contribuições dos estudos contemporâneos para o processo de tomadas de decisão. Intuitio, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 104-122, jun. 2015. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/18418/13529>.

2 Comments
  1. Reply Eduardo 24/05/2016 at 13:57

    Esta frase de Shakespeare é realmente um clássico, um fato. O melhor realmente é seguir em frente liberando o coração desse sentimento. Mandou bem no artigo meu caro. Abraço,

    • Reply Rogério Braga 25/05/2016 at 07:02

      Muito obrigado, meu caro! Sigamos em frente… Forte abraço!

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